quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Não adianta falar  coisa alguma.
Os ouvidos se fechem automaticamente quando não se quer ouvir.
São como  os olhos caídos de sono que não que não respeitam coisa alguma.
O sono atropela as coisas
 A falta de paciência também.
 A intolerância e todos os bichos mordazes que vão nos roendo as entranhas também.
Os desejos que guardamos dentro de minúsculas caixinha de musica, também.
Guardamos os medos pra ninguém ver.
Pra ninguém notar que existem.
E os medos, aqueles medos de falta de amor de mãe,  de medo que o pai morra e que o céu caia sobre as nossas cabeças permanecem por mais tempo que deveriam.
 O que são esses medos?
Medo de envelhecer e perceber que igual adolescentes, não sabemos pra onde ir.
Porque estamos ali, numa zona desconhecida, e pior, sabemos o que pode vir pela frente.
Algumas vezes, não esquecemos do que deixamos pra trás.  
 Mas medo mesmo eu senti, no dia que sonhei que acordava.
Eu  tive um sonho e  pensei que estava acordada.
No meio da noite eu abri os olhos, e o céu estava de um vermelho alaranjado.
Eu sabia que era de manhã, meus instintos sabem de manhãs, mas as sombras carregadas impediam de identificar se era dia ou se era noite.
Mas eu sabia que era dia.
Percebia a manhã como o poeta percebe a palavra.
Eu devia estar acordando aquela hora. Era a  hora que  o despertador sempre  tocava.
Todos os dias, religiosamente, todos os dias, na mesma hora, com sua música enjoada.
 A janela da sala estava aberta e o vidro trepidava de mansinho com o vento que batia nas árvores mas não chegava até mim.
 De repente, um enorme anjo caiu na meio da sala.
 Não pude ver seu rosto porque ele era gigante.
Só pude ver os dedos dos seus pés.
 Descalços.
Não sei se os dedos eram brancos ou marrons.
Transparentes.
Eu tremia, um tremor revolvido, que vinha das profundezas dos meus medos infantis quando achava que o mundo ia acabar por um estalar de dedos do aiatolá khomenini e seus olhos caídos.
Num frenesi eu sabia que  tudo estaria acabado, em poucos minutos.
O anjo apocalíptico veio me buscar.
Ele estava ali no meio  da  minha sala e eu não conseguia ver seus olhos.
Mas ele estava ali.

Um gigante devorador,  e eu nem pude ver se ele tinha asas.



Gosto das palavras que dizem tudo.
Pêndulo.
Oráculo.
Podre.
Peido.

Solidão.