sobre pássaros


Eu poderia falar de tantas coisas...
Poderia falar do que está escondido nas metáforas do dia a dia, nos cumprimentos das tarefas diárias ou de coisas desimportantes como criar ervas daninhas em vasos de jardim.
Poderia falar também dos desertos vastos que vão cobrindo as imensidões das cidades, tão caóticas e solitárias, dos filhos únicos que tratam as pessoas como brinquedos, das chuvas finas que são aguardadas com temor pelos cariocas e fluminenses, poderia falar do imenso frio que faz no Rio, e do calor interno das pessoas que continua o mesmo. Poderia  falar do meu jardim, das minhas rosas que crescem despetaladas, como se tivessem medo de mostrar toda a sua beleza. Poderia falar dos risos das crianças que ecoam pelas escolas. Adoro riso de crianças na escola, dá vida aos prédios geralmente velhos e que  guardam em seus fossos,as memórias de outros tempos.

Poderia falar de escolhas  e tempos idos..

Sobre a mágica intensa que é amadurecer no mesmo corpo que desconhece os limites e a  evolução do próprio tempo.

Poderia falar do tempo. Esse arcanjo mágico, que parece passageiro, mas que nos engana o tempo todo quando buscamos na memória, as lembranças esquecidas e nos deparamos com  o incredível: O tempo, esse vasto, passou... e nos deixou aqui...ilesos , fragéis em nossa condição humana, perdidos num vago mundo entre ser e pertencer,  emparedados entre mundos passados e futuros.

Poderia falar da esperança. A última que morre, mesmo sem adubo, mas prefiro falar dos passarinhos, estes seres espaciais, que cantam a canção do mundo, desde que o mundo é mundo, com o mesmo tom, com o mesmo timbre, com a mesma marca...

Estes passarinhos que livres, podem sair voando e conhecer um céu livre de tecnologias,esses passarinhos que não sabem o que é a dor do amor, pois incorrigíveis, não se deixam enganar pelos sentidos.

Passarinhos da floresta divertem-se noite e dia, num alarido colorido e infinito junto a uma imensidão de céus e de manhãs.
Passarinhos da cidade, quando fogem da  gaiola, acabam fazendo seus ninhos nos buracos do ar condicionado dos grandes prédios em construção.

E o que mais me impressiona, é como podem aceitar com mansidão sua sina.

Mas depois me lembro: Eles podem voar.

E o mundo fica manso outra vez.  


   

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