Essa semana do dia dos pais sempre passa assim meio desapercebida para mim.
No meu íntimo me sinto vazia. Orfã.
Mas ontem, o dia calmo de sol outonal, me trouxe lembranças da minha infância com meu pai.
Ele era tão amoroso e dedicado.
Talvez por ter imigrado jovem para o Brasil e nunca ter tido a oportunidade de voltar à Portugal, ele tenha adquirido o sentimento visceral de descontinuidade,de sentimentos de plataforma de estação.
Ele carregava uma dor parideira nos olhos cor de oliva, um sentimento de solidão e desencontros, de melancolia de espera de paradeiro.
Por cultivar esses sentimentos urgentes de chegadas e partidas, ele se transformou num refúgio calmo de amor, numa doce raiz bem profunda.
Me lembro de suas voz com sotaque forte nos chamando para deitar na sua cama, num dia frio de chuva fininha. Ali era o melhor e mais seguro local do mundo, pois alí era o ninho dos fados, das delicias de acuçar e ovos, das memórias de cores e sabores que podíamos sentir com o toque de nossas pequenas mãos, eu e meus irmãos.
Depois a vida aprontou.
E tirou tanto de nós.
E nos colocou tantos impecilhos e estreitamentos.
Alguns obstáculos conseguimos superar com perseverança e trabalho.
Outros não.
Meu pai morreu sem falar comigo, há vinte e dois anos atrás.
Não por culpa dele, claro.
Mas pela crueza da minha juventude, pela imaturidade dos meus dias,pela rebeldia adquirida com a chegada do primeiro amor,da primeira transa, do primeiro filho no final da adolescência, das primeiras decepções, pela minha inexperiência em lidar com as asperezas da vida.
E foi assim.
Mas ontem meu pai sorriu pra mim em minhas memórias.
E seu riso era aceso e cheio de vida. E eu estava lá junto com meus filhos, irmãos e sobrinhos.
Ríamos das nossas histórias.
E gozamos das nosssa intrepitudes
Ilesos, aproveitamos o dia, repletos de amor.
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