quinta-feira, 20 de maio de 2010

um conto



Ângulos Rotos



E os dias que eu tinha que esperar que as suas birras passassem?
Até que tudo voltasse ao normal, eu tinha que exercitar minha paciência e me ajustar lentamente a volta do labirinto.

Meus lábios secos e silenciosos, minha alma humilhada pela sua censura.
A raiva surda e flamejante saia pelos cantos dos seus olhos esbugalhados.
Justamente naquela noite, o céu desabava.
A chuva caindo e ele vomitando suas palavras ásperas.

Se eu fosse você já teria ido embora dessa casa

Eu fiquei parada. Estática.

Do lado da porta eu não tinha pernas pra correr pro quarto e me jogar na cama e chorar por cinco dias consecutivos.
Chorei ali mesmo. Abalando os últimos resquícios de uma auto estima dilacerada que nadava na lama, sequiosa de esconder a cara e fugir de mim mesma .
Arrumei as malas.
Simplesmente ele mandou eu fazer minhas malas em silêncio. Meu barulho estava atrapalhando -o de ver televisão
Lentamente, fui arrumando as roupas dobrando-as por cores. Depois desarrumei tudo e novemente comecei a arrumar dessa vez, por tecidos.

Primeiro o cetim,depois as roupas de algodão,de seda, de linho...

Dava-lhe a chance de se arrepender e voltar atrás, dava-lhe a chance de reconhecer que perdia a mulher da sua vida.
Quando cansei de esperar, joguei tudo na mala e foi nesse exato instante  que ele gritou que eu fosse rápida,e antes de sair eu não me esquecesse de deixar em cima da cômoda, a sua carteira de motorista .

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