terça-feira, 16 de setembro de 2008

o erotismo de drummond , bilac e castro alves

( tela de paul emile becat)

Eu adoro poesia erótica, acho lindo esse entrelaçamento entre a transgressão do sexo e a liberdade do sexo.
E até mesmo eu, já trilhei pelos caminhos do erotismo. E adorei a experiência.

É uma sedução escrever uma poesia erótica, e não fico nada admirada que Drummond  Bilac e Castro Alves também tenham sido seduzidos pelos rituais de Eros.

Porque não?

Porque não transgredir a ordem, censurar a crítica e trilhar a senda do proibido?

Fazer poesia é aventurar-se pelo mundo dos sentidos e das palavras.

A poesia de Drummond e  Bilac e Castro Alves. Indecorosas.Perversas. Eróticas. Deliciosas.


Sugar e ser sugado pelo amor


Carlos Drummond de Andrade

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça


C. D. de Andrade

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto e comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.


Delirio


Olavo Bilac

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca,
Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci…


Beijo Eterno

Castro alves

Diz tua boca: "Vem!"
"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morro por teu amor!

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor

5 comentários:

  1. Muito bom esse post.
    Concordo plenamente, acho que poesia pode ser aliada ao erotismo e Bilac é um dos meus preferidos.
    Beijo :*

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  2. A poesia 'beijo eterno' não é do Olavo Bilac, mas sim do Castro Alves, fica a dica ok?! ótimo post

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  3. Oi Gracielly.

    Realmente você tem razão.
    Os dois poetas Castro alves e Olavao Bilac tem poesias entituladas Beijo Eterno.

    Essa poesia do meu post é realamente do Castro Alves.

    Obrigado pela dica.


    A do Olavo Bilac é esta:
    OLAVO BILAC

    BEIJO ETERNO

    Quero um beijo sem fim,
    Que dure a vida inteira e aplaque meu desejo!
    Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo.
    Beija-me assim!
    O ouvido fecha ao rumor
    Do mundo, e beija-me, querido!
    Vive só para mim, só para a minha vida,
    Só para meu amor!

    Fora, repouse em paz
    Dormida em calmo sono a calma natureza,
    Ou se debata, das tormentas presas
    -Beija ainda mais!
    E, enquanto o brando calor
    Sinto em meu peito o teu seio,
    Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
    Com o mesmo ardente amor!

    Suceda a treva a luz!
    Vele a noite de crepe a curva do horizonte;
    Em véus de opala a madrugada aponte
    Nos céus azuis,
    E Vênus, como uma flor,
    Brilhe, a sorri, do ocaso a porta,
    Brilhe a porta do Oriente! A treva e a luz - que importa?
    Só nos importa o amor!

    Raive o Sol no Verão
    Venha o outono! do inverno os frígidos vapores
    Toldem o céu! das aves e das flores
    Venha a estação!
    Que nos importa o esplendor
    Da primavera, e o firmamento
    Limpo, e o sol cintilante, e a neve, e a chuva, e o vento?
    Beijemo-nos amor!

    Beijemo-nos! Que o mar
    Nossos beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!
    E cante o sol! A ave desperte e cante!
    Cante o luar,
    Cheio de novo fulgor!
    Cante a amplidão! Cante a floresta!
    E a natureza toda, em delirante festa
    cante, cante este amor!

    Diz tua boca: "Vem!"
    "Inda mais!", diz a minha, a soluçar ... Exclama
    Todo meu corpo que o teu corpo chama:
    "Morde também!"
    Ai! Morde! Que doce é a dor
    Que entra as carnes, e as tortura!
    Beija mais! Morde mais! Que eu morra de ventura,
    Morto por teu amor!

    Quero um beijo sem fim,
    Que dure a vida inteira e aplaque meu desejo!
    Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo.
    Beija-me assim!
    O ouvido fecha ao rumor
    Do mundo, e beija-me, querida!
    Vive só para mim, só para a minha vida,
    Só para meu amor!

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    Respostas
    1. Ué, mas as duas últimas partes desse poema do Bilac, são do poema do Castro Alves ..

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