Estou sempre atenta prestando atenção nas coisas, e principalmente nas palavras.
Não sei dizer se os indios deveriam coexistir com a nossa sociedade. É necessário realmente que o índio coexista?
A coexistência de alguns povos já nos desmonstrou historicamente o que a nossa sociedade faz com quem considera inferiores, devora sem dó nem piedade.
Se uma pessoa que vê uma aldeia por fora não consegue perceber sua grandeza por dentro, não deveria necessariamente sair por ai a dizer um monte de asneiras.
O que nossos olhos sentem como pobreza de indio, é apenas um modo de vida tão antigo como o próprio tempo prejudicado,arruinado pela coexistência forçada ou não.
O que precisa é haver discussào na sociedade do que seja os valores civilizatórios e qual a sua aplicabilidade.
Querer organizar os indios para que eles não passem fome num universo de 1 milhào e meio de hectares, é justo, mas será realmente necessário essa organização?
Querer que o indio pense como o branco é reduzi-los a indios que pensam como branco. Um caminho mais rápido para a extinção completa da etnia.
Fiquei feliz de ver uma autêntica festa dos nambiquaras.
Os indios e indias comemorando felizes um dos rituais de passagens mais bonitos e importantes da aldeia.
As mães das moças meninas estavam orgulhosas e demonstravam isso cantando e dançando.
É um outro universo de simbolismo, mas a preocupação materna estava ali, como de qualquer outra mãe no planeta terra.
Aliás, na conversa com as mulheres,filhos e maridos, foram nosso principal assunto e rimos tanto, e falamos tanto, e ao falar dos nossos pequenos, ali estava o amor, e ao falar dos maridos, homens em geral, lá também estava a crítica, a beleza do relacionamento ou não, as mazelas e as delicias também.
As crianças falam nambiquara, as mulheres educam seus filhos em nambiquara, falam entre si na lingua materna e as crianças maiores aprendem o português nas escolas bilingues nas aldeias.
Não houve como nao comparar esse valor linguistico com a baiana que viajou comigo no vôo Brasília Cuiabá.
Ela vinha da França com a filha de apenas 1 ano.
A menininha estava irritada e eu resolvi brincar com ela para acalmá-la. Eu falava e cantava e nada da menina interagir. Até que a mãe falou: Ela não fala português, só francês.
Ao longo da conversa descobri que o pai era brasileiro, e que eles não ensinavam para a filha a lingua materna. Levei um choque.
No meu conceito, nada justifica que aquela mãe cantasse para a filha dormir uma musica francesa, ao invés do nosso doce "nana nenê... falar francês seria mais civilizado que falar o português?
Então fiquei pensando ...
O que é ser civilizado, o que é se achar civilizado, renegar o que é nos é tão próprio, o que nos é tão caro, quanto nossa cultura, nossa lingua materna?
Afinal,
Coexistir é o que?
Se organizar e pensar como branco?
Querer as mesmas coisas que o branco quer e almeja?
Ser como o homem branco trará menos "miseria" para si e para os outros?
Existe toda uma gama de possibilidades.
Respeitar essa organizaçào e este universo é o primeiro passo.
Empoderar o indio através depoliticas publicas é uma outra saída possível.
Enfase na educação étnica e anti-racista porém , é fundamental.
Conceitos como civilização e atos civilizatórios precisam ser repensados. E no que isso implica? mudança de posição.
Nào tenho o costume de fotos pessoais, mas excessões existem. As fotos estão muito escuras por conta do flash da máquina que estava ruim.
Tirei poucas fotos também, porque estava lá para compartilhar e aprender e não para fotografar, necesseriamente e ofuscar o brilho da festa.
A roda e a dança
Eu aprendendo nambiquara com as crianças
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Ainda com as crianças, ao fundo Ana, a antropóloga que nos acompanhou
A lua, redonda e soberana que clareou a noite
A oca que guardou durante 3 meses as meninas-moça
Uma árvore no meio da aldeia
Heverton, Renato, filho do Homem Algodão e eu.
Fafi
ResponderExcluirAdorei seu texto e assino em baixo (com a sua permissão).
As fotos dão bem a idéia de seu momento tão especial vivido entre os nambiquaras.
Beijos