sexta-feira, 31 de agosto de 2007

...


Desde pequena que viajo de trem.
Saíamos de manhã bem cedo de Austin, onde morávamos, para Quintino, para passar o domingo na casa da minha vó.
O trem era daqueles japoneses antigos, meio cinzas, ou azul claros.Já nem me lembro mais,pois não é nada, não é nada, lá se vão anos de memória.
Mas para mim era tudo cor e som, muito som...
Me lembro que as portas do trem não fechavam e eu ficava morrendo de medo de cair no chão que passava rápido, bem rápido, e a gente só via mato e as pequenas casas coloridas.
Passava a viagem inteira agarrada ao meu pai.
A viagem, apesar de longa( o trem era parador) aos meus olhos, porém,era encantada. Tinha tanta coisa pra ver. Aliás,o trem é um espetáculo para crianças. Balas, picolés,artigos de todos os tipos. É um comércio mambenbe, muito legal. Eu adoro!
Mas diferente de hoje, nos trens da minha infância, viajavam, junto com os passageiros, bicicletas,gaiolas de passarinhos e até cachorros.
Aliás,todo morador da baixada fluminense tem uma experiência engraçada, diferente para contar desse meio de transporte.
A linha férrea corta as 13 cidades da baixada.
Separa as cidades em duas, com suas cancelas, ou com as extintas passagens que viraram enormes passarelas.
Todo morador da baixada anda de trem um dia na sua vida.
Eu ando de trem a muitos anos,é um meio de transporte rápido e seguro.
Até ontem.
Hoje, quando voltava do trabalho, passei no lugar do acidente que feriu mais de cem pessoas e matou 8.
Foi inevitável sentir um pavor gelado.
Os ferros retorcidos naquele lugar lúgubre e escuro davam um medo pavoroso.
Um trem é uma coisa enorme, e ele estava lá , todo lata retorcida...
Deu uma tristeza danada pelos mortos.
Será que vão abrir uma CPI?
Será que vão instaurar inquéritos para descobrir os culpados ?
Será que o assunto virára matéria do Jornal Nacional, até quando?
Será que vão descobrir que estava faltando alguma peça fundamental para o bom funcionamento do trem? e se descobrirem, será que vão apurar?
Ou será que esses mortos ficarão no limbo do esquecimemto como viviam à margem da vida?
Afinal, eram pobres, moradores da baixada fluminense, moradores dos Japeris, Queimados, Engenheiros Pedreiras da vida.
Eu e minha amiga Vera fizemos uma pequena oração aos mortos.
Que o barquinho os leve em paz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário aqui