A GENTE SE VÊ - PARTE II
“A gente se vê.” Pronto, phodeu, eis a senha para o nunca mais, o “never more” do corvo do tio Edgar A. Poe. A gente se vê. Corta para uma multidão no viaduto do Chá. A gente se vê. Corta para uma saída de estádio lotado em dia de decisão do campeonato. A gente se vê. Corta para “onde está Wally”. Nada mais detestável de ouvir do que essa maldita frase. Logo depois a porta bate e nem por milagre. Jovens mancebos, evitem essa sentença mais sem graça. Raparigas em flor, esqueçam, esqueçam. Melhor dizer logo que vai comprar cigarro, o velho king size filtro do abandono. Melhor dizer que vai pra nunca mais. Melhor o silêncio, o telefone na caixa postal, o telefone desligado, o desprezo propriamente dito, o desprezo on the rock´s. A gente se vê uma ova. Seja homem, torque de palavras, use o código do bom-tom e da decência. A gente se vê é a mãe, ora, ora. Como canta o Rei, use a inteligência uma vez só. Esse “a gente se vê” deveria ser proibido por lei. Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal. A gente se vê é pior do que a gente se esbarra por ai. Pior do que deixar ao acaso, que jamais abolirá a saudade, que vira uma questão de azar e sorte. Melhor dizer logo “foi bom, meu bem, mas não te quero mais”. YO NO TE QUIERO MAS, como na camiseta mexicana que ganhei. Dizer foi bom meu bem e pronto, ficamos por aqui, assim é a vida, sempre mais para curta do que longa-metragem. A gente se vê é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. A gente se vê é a vovozinha da fábula, ora! Seja homem, diga na lata. Não engane a moça, que a nega é fino trato, que não merece desdém. A fila anda, jogue limpo. A gente se vê. Corta para uma multidão no Galo da Madrugada. A gente se vê. A gente se vê. Corta para a festa do Círio de Nazaré. A gente se vê. Corta para a festa do Morro da Conceição. A gente se vê. Corta para o dia de Iemanjá em Salvador. A gente se vê. Corta para o reveillon na praia de Copacabana. A gente se vê. Então aproveita e vai logo ver se eu estou na esquina da São João com a Ipiranga |
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