internet e solidão


(ainda Chagall: mulher e rosas)

Numa dessas minhas leituras, li um artigo do ator e escritor Aloisio de Abreu onde ele dizia que a internet é a fada madrinha dos solitários.

Passei um tempo amadurecendo essa afirmação.

O quanto de verdade ela tinha. O quanto de sensibilidade ela tem.

É verdade.Estamos da era do eu-sozinho.

Na fase das coisas e relacionamenentos descartáveis.

A internet é um campo aberto de intenções. E más intenções.

Constantemente alimentados por mentiras e boatos, ficamos a mercê da nossa fada madrinha.
Rindo sozinhos, falando sozinhos e se vemos algo de realmente interessante enviamos por e-mail para nossos amigos.

Não trocamos mais telefones. Apenas e-mail e msn. Todo mundo tem o seu. Estão todos interligados e ao mesmo tempo, tão desplugados dos outros.

E- mail não tem voz. Orkut também não.

Não tem carinho. Não tem afeto.

E cada vez mais as pessoas se embrenham em sites de relacionamento a procura. À busca.

Antes o perfil da procura eram de pessoas solitárias, com dificuldade de se relacionar pessoalmente.

Hoje em dia é um grande mix de pessoas que procuram amizade, sexo casual, zoeira. Relacionamentos velozes. Fugazes. Sem laços.

E com um simples click, basta bloquear, excluir, e a pessoa está fora da sua vida.

Vivemos a era das individualidades,dos homens distantes, dos extremos.

Extrema violência, extrema egocentricidades, extremas celebridades, extremas intolerâncias a etnias e gêneros e tolerâncias demasiadas ás injustiças, a guerra, a corrupção...

Vivemos.... ou será que nos enganamos que vivemos?

Viver no meu tempo de criança por exemplo, era sentar debaixo de uma goiabeira junto com a meninada e comer todas as goiabas até a barriga ficar dura de saciedade.

Viver era chupar bala juquinha,e faltar a missa no domingo.

Viver era fazer um cigarrinho de papel e fumar escondido da mãe.

E hoje as coisas tão mudadas.
A goiabeira foi trocada por jogos eletrônicos que provocam ansiedade de querer cada vez mais;

Bala juquinha não existe mais. Mas as drogas sintéticas proliferam; religião é artigo de luxo;

Cigarro de papel que nada, cocaína e o crack são os vícios da hora.

E novamente, vemos que até mesmo esses comportamentos, como as drogas e jogos eletrônicos, remetem à individualidade e solidão.

Estamos realmente na era do eu- sozinho.

Da tecnologia solitária.Dos relacionamentos virtuais, dos namoros on-line...

Vivemos enfurnados em nossas casas blindadas como nossos carros, alimentando uma fada madrinha que ao invés de sonhos e fantasias nos nutre com angústia e solidão.

Comentários

  1. Bastante reflexivo o texto. Concordo com quase tudo, mas sou um pouco mais otimista. Vejo, assim como você, o individualismo proliferar junto com suas mazelas, mas ao mesmo tempo enxergo o lado bom. Consigo pela internet me comunicar com minhas filhas que trabalham em outra cidade, de forma rápida e barata. E o melhor, consegui convencer minha mãe, de setenta e seis anos, a comprar um computador e conectar a internet. Nós, que andávamos afastadas, agora nos correspondemos todos os dias por email, e minha mãe teve sua auto-estima alavancada, pois aprendeu rapidamente a dominar a máquina e já está ensinando às suas amigas. Mas, como tudo, Fafi, há os dois lados. O problema é saber dosar.
    Beijo, guria!
    Re

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