quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

capacidade de se reiventar


Foto: João Viegas

Passei dois anos da minha vida confinada numa doença chamada depressão, tomando anti depressivos que mexeram com minha estrutura fisica e psicológica.
Mas  foi mesmo a depressão que  mexeu  comigo, mais do que qualquer coisa que possa ter me acontecido nesta vida.
E olha  que desde menina sempre tive uma vida dificil e sofrida.
Mas nada, nada  que se compare a depressão.
Definitivamente.
Ela me fez ir ao fundo de coisas que julguei não pudessem existir dentro de mim.
E quando buscava saídas ia me arrastando cada vez para dentro de mim  mesma, e isso  provocava  um imenso vendaval  de interpretações de realidade e de monólogos internos initerruptos e infernais...
Nunca foi  tão dolorido pensar.
Nunca foi tão dolorido sentir.
Nunca foi tão dolorido acordar de manhã e ter que viver.
Nunca foi tão dolorido buscar uma saída.
Eu tomei um sem fim de cartelas de  anti depressivos, que aliás, garantiram minha qualidade de vida naqueles dias, passada a crise inicial.
Só não tive coragem  ainda de buscar uma terapia.
Minha terapia é viver, escrever e fugir do meu médico que sempre que o vejo, seus olhos me cobram  " Você ainda  não completou o seu tratamento."
Quando sinto que  algo me ronda,  uma tristeza interior que vai  me envolvendo  como teias,  sei que a depressão cobra seu espaço na minha vida e avança com suas garras novamente sobre mim.
Ela vai  emergindo aos poucos, deixando meus olhos parados num ponto, se recusando a desviar para o recuo.
Quando não sei se faz frio ou se faz calor ou quando tudo parece cair em cima da minha cabeça,  eu vou resistindo.
Me recuso a me entregar.

Já conheço bem os sintomas.
Mas prometi a mim mesma que a suíte no fim do poço com janelas para o fosso, eu não ia mais frequentar. 
Estou conquistando a capacidade de me reinventar.
De buscar alegrias nas pequenas em pequenas doses diárias.
E quando a coisa fica brava, faço sonoterapia, faço sundaeterapia, leio Memórias de um Sargento de Milicias, porque para ler esse livro tem que prestar uma atenção danada pra não dormir,  aí  eu me distraio.
E me distraio.
Viajo quando posso e a grana dá.
a grana não dá, vou ao cinema.
Compro um brinco baratinho no camelô e fico feliz, invento uma poesia diferente de tudo aquilo que já escrevi, sonho um projeto novo,  rezo um frila, sonho meu livro ganhando  um prêmio na feira do livro de Bologna.
Me reivento para não cair na armardilha.
Balanço  a cabeça. Me nego a participar da minha derrocada.
Não tenho mais idade pra isso, nem fôlego.
E a depressão é pesada, é azeda, é cruel.
E não quero me tornar uma inútil em idade fértil.
Quero poder sair e paquerar, ver o sol, a praia...
Quero poder fazer projetos, e ver os sorrisos lindos dos meus filhos todos os dias, sem manchas.
E desafio o medo, desafio a angústia, desafio a perda, desafio a vida.
Desafio, porque me garanto.
E plena das minhas garantias vou cristalizando a minha capacidade de me reinventar.

7 comentários:

  1. Fafi,que belo texto!Um relato comovente e muito sincero,porisso tão profundo e interessante!Adorei a sundaeterapia...rsss...Obrigada por ler minha poesia para sua filha!Adoro quando crianças me visitam!Bjs,

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  2. Fafi,

    seu texto me comoveu profundamente. Difícil lidar com os sentimentos, sobretudo expressá-los.

    Desafiar a tristeza, a melancolia, a famosa deprê... é um grande passo para a autonomia.

    Parabéns por sua coragem e pela bela escrita de cunho confessional.

    Grande abraço,
    H.F.

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  3. Minha Amiga

    TOC-TOC-TOC



    Os camelos caminham ...
    Pelo deserto ...
    Com rumo certo ...
    São apenas três
    Transportam os Reis Magos ...


    Gaspar ...

    Belchior ...

    Baltazar ...


    Levam os presentes
    Ouro Incenso e Mirra ...
    Em nome do mundo ...
    Em nome dos Homens ...
    Presentes que simbolizam ...


    Paz ...

    Harmonia ...

    Bondade ...

    Verdade ...

    Justiça ...

    E tantos valores ...


    E Jesus pequenino ...
    Com os bracinhos estendidos ...
    Agradecee e guarda-os no coração
    Com a certeza...
    Que os Homens...

    O vão adorar ...
    Mas muitas vezes ...
    Estarão prontos...
    Para o maltratar!...



    LILI LARANJO

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  4. Hoje em dia ainda é dificil falar disso. Mas vou lutando contra a depressão de todas as maneiras. A palavra é uma arma muito forte. A depressão é uma dor física, dificil de expressar, só quem passou por isso é capaz de entender.
    Mas vou vivendo.
    Obrigada a todas pelo carinho.

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  5. Querida Fafi, a palavra liberta. Use-a sempre. Com ela podemos extravasar a dor ou brincar com a fantasia.
    Fico muito impressionada como este mal depressivo ronda tantas pessoas. Pessoas que tem tudo para brilhar e ser feliz.
    Muita energia e muitas alegrias pra ti.
    bjs

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  6. Bom dia, obrigada pela visita e por palavras tão carinhosas para com o meu trabalho.
    O seu cantinho também é divino, cada um dentro da sua proposta. Fico feliz em passar por aqui. Apenas estou com um pouco de dificuldades para ler no computador, mas logo farei um novo exame de vista e trocareo os meus óculos: logo estarei novinha e em forma.
    Volte sempre, FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... terá sempre uma história para te contar.
    Fique na PAZ.
    Saudações Florestais !
    http://www.silnunesprof.blogspot.com

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  7. Clarice, é o que tenho feito... a palavra tem sido minha amiga intima e tem sido tão bom...

    Tenho certeza Silvana que você vai ficar ótima e ler bastante o diario e sempre vou l´ate dar um abrçao no seu cantinho.

    Obrigado pelas visitas queridas.

    beijinhos.

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