segunda-feira, 23 de junho de 2008

sobre leituras


Sim, eu poderia jurar pra mim mesma que sou minha única fonte de inspiração.

Quando fosse reconhecida pelo meu trabalho, dar entrevistas e dizer que não, não sofri nenhuma influência. Meu autor favorito? Machado de Assis, obviamente e James Joyce....

Mas as influências são importantes.Elas transformam a nossa forma de ver o mundo.

Nos dão perspectivas. Múltiplas. Isso influência na escrita? Deve influenciar... Nunca parei pra pensar sobre isso...

Eu poderia divagar por horas a fio minha pouca observância do mundo, minhas inúmeras e pequeninas atrocidades contra textos famosos que não me deram mais que embrulho no estomâgo.

Sim, gostei muito de Divina Comédia Humana, e mais ainda quando li aos trinta anos D. Quixote de La Mancha. Meu deus, quanto tempo perdido!

Como essa história tem tanto a ver comigo... Eu tenho tanto do Cavaleiro da Triste Figura, tão alheio a vida, infernizado pelas desgraçarias das novelas de cavaleiros que permeavam sua vida.

Seria mentirosa se declarasse que não sofro influências.

Como posso negar que depois que li Lucíola para a aula de Literatura,fiz poemas e mais poemas de amor para Lucia e Paulo. Chorei uma semana de tristeza. No meu mundinho quixotesco, o mocinho acabava sempre com a mocinha.

Anos mais tarde descobri a beleza sublime deste amor. Mas era tarde demais.Risquei José de Alencar da minha vida.

Foi uma infantilidade, eu sei. Foi um desertar do felizes para sempre. Mas está tudo perdoado.O José tem poesias lindas, é um autor profundo,romântico. Folhetim.

Mas risquei e risco qualquer autor que me dê sono, que me dê embrulhos na mente, que me faça ler mais que duas vezes o mesma frase e mesmo assim, tenha que recorrer à reminicências internas, frequentes consultas ao dicionários de sinõnimos-antônimos,que o sentido esteja nas entrelinhas, e não no dito propriamente.

Quero ter o direito de não entender um texto e não ser crucificada por isso.

Aprendi com Paulo Freire a não virar a página de um livro sem entender o que o autor está querendo dizer,que é preciso dialogar com o texto, com autor. Sempre. Daí,a importância do ato de ler.

Mas tem autor insuportavelmente egocêntrico.O diálogo só existe para quem quer dialogar.

É. acho que sou feita de minhas influências e, minhas leituras vão se fazendo num grande e profundo caldeirão de gostos e palavras, de textos duvidosos e obras perfeitas como o Alienista de Machado de Assis.

Voltamos ao Machado.

O que me falta ler do Machado é Memorial de Aires. Comecei a ler, mas algo me fez parar.

Passei minha adolescencia toda lendo Machado.

Muitas e muitas vezes no Catete(trabalhava lá numa loja de discos antigos) eu percorria calmamente as ruas, sentindo o cheiro, olhando arquitetura dos prédios antigos, procurando as ruas citadas nas obras, procurando imaginar como era...o que ele dizia...


O Machado influenciou tanto minha adolescência que o tratava de Machadão, e quixotescamente me imaginava apaixonada pelo mulato.

Ia aos sebos procurar raridades.

Um dia encontrei uma seleção de contos numa edição belissima com aquelas folhas fininhas de biblia, todo ilustrado... Uma beleza...

Sumiu nas minha mudanças. Uma lástima.

Não sou minha única fonte de inspiração. Sou feita disso tudo, e de tantos outros tantos.

E de tanta poesia que vai de Borges à Ana Cristina Cesar.

Isso é que vai me constituindo e me alimentando nas horas vagas...

Nem sei muito bem porque comecei a falar sobre isso.
Ultimamente estou meio sem começo e sem fim.

Estou numa fase da doença em que o teto é um assunto tão interessante....

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