quarta-feira, 28 de maio de 2008

sobre homens e histórias


Faltam aos homens a dignidade de repassar a experiência e a vontade de passá-las adiante.

Em África, a tradição oral é a perpetuação da vida. Mas do que moral e bons costumes, contar experiências, faz parte do crescimento do individuo.

Aos homens falta o prazer de sentar-se com suas crianças e contar-lhes histórias...

Contos de fadas, bicho papão, tutu marambaia, a primeira pesca, a opinião do pai, o que o avó fazia quando via uma lagartixa, o cheiro da lasanha da avó, o divertimento do cachorro do vizinho...
Memórias nossas, que vão compondo um coletivo de idéias, que vão se intercalando entre o passado o presente e o futuro, como fendas.

Falta aos homens a dignidade do eco, que além de repetir, traça a melodia no seu tom, no seu volume, incorporando a individualidade aos traços do dia a dia.

Falar do passado com nossas crianças é reconstrui-lo e, re-construindo-o a gente vai edificando-o, transformando a fala em fatos por vezes sem começo meio e fim.

Falta ao homem renunciar às individualidades, e resgatar as mensagens internas, que rompam as barreiras, os diques...

Senão ficamos somente com a tecnologia, ficamos apenas com as máquinas que nos filmam em todos os lugares, com os computadores, celulares, pagers, não dando espaço para os segredos, as histórias de familia, os causos dos antepassados, tão importantes na contistuição de nós mesmos.

A tradição oral deve caminhar junto com o novo.
Se alargando, se avolumando, se reconstituindo, se refazendo mas continuando parte.

As histórias devem fazer parte, porque existem para sempre.
Em nós, por nós, fazendo-nos.

Todos somos guardiões da memória.
Todos somos contadores de histórias, porque somos feitos delas.
Das nossas próprias, das histórias dos outros, das histórias do mundo...

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